quinta-feira, 22 de julho de 2010

Cérebro DDAdo



Fico pensativa sobre a questão do cérebro “DDAdo”. Os psicólogos e psiquiatras difundem que, quando criança, o indivíduo com DDA troca letras, derruba coisas, acha a escola um tédio, é desorganizado. Estas pessoas crescem com a sensação de serem indesejadas e incompreendidas. Contudo, isso não aconteceu comigo, com a exceção de derrubar coisas e da desorganização, o resto não experimentei, pelo contrário, era uma aluna excelente, aplicada e apaixonada pelo mundo do conhecimento.

O cérebro “DDAdo” só se concentra quando a atenção é captada. Uma vez captada a atenção surge outra característica notável: o hiperfoco, uma concentração concentrada. Um cérebro “DDAdo” quando ama, é tudo ou nada. Há um excesso de emoção e a tendência de idealizar o objeto amado. E como sei o que é isso desde que encontrei o meu amor... Verdade é que alguns com DDA se apaixonam por suas carreiras ou pela ciência. Li que artistas com DDA sublimam a emoção em músicas, romances, poesias... Por isso adoro escrever minhas poesias cheias de emoção, apaixonadas, às vezes melancólicas, mas que me aliviam a alma. Não estou querendo dizer que meus dons e defeitos são “culpa” de um cérebro “DDAdo”, mas acredito que ajuda a intensificá-los.

Um notável cérebro “DDAdo”, Eisntein, péssimo aluno,focou vinte anos a questão do que acontece com os objetos à velocidade da luz. Outro sonhador, Gran Bell, levou anos para resolver como falar com alguém do outro lado do planeta. Convenhamos, as pessoas sensatas não se ocupam com estas “tolices”. Sorte da humanidade que haja cérebros “DDAdos”, hiperfocados, pobres sofredores incompreendidos! Para os “normais”, o mundo comum é tão pobre... Para mim, em meu mundo interior tudo é tão incrivelmente possível! Tudo intensamente rico de beleza e possibilidades. Sou criativa, e mantenho a curiosidade investigativa de uma criança, bem como o gosto pelo lúdico, o meu relógio interior parou no frescor dos meus vinte anos... Isso daria a mim vantagens sobre os cérebros comuns? Seria eu mais feliz e menos estressada? Ganharia eu mais alguns anos de vida? Não obtive respostas para esses questionamentos.

Ao mesmo tempo em que vejo beleza em um cérebro “DDAdo”, não posso também deixar de citar as desvantagens em carregar esse estigma: inquietação, contradição, desorganização, devaneios, intolerância ao tédio, dificuldades em seguir regras. Eu vivo constantemente a dor e a delícia de ser quem sou.

Descobri que é preciso agir ou corro o risco de passar pela vida anonimamente a observar estrelas, deixando atrás de mim um rastro de roupas esparramadas, gavetas abertas e corações partidos. Este é o meu desafio: ultrapassar a fase do sonhador e tomar atitudes práticas; sair do mundo das idéias e lançar-me ao mundo do concreto, onde os cérebros “DDAdos” não são bem vistos e não ocupam lugares de honra na sociedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário